As hidrelétricas geram cerca de 64% da energia elétrica consumida no Brasil, um dos países com a matriz mais limpa do mundo. Mas para que o país mantenha o título, é necessário um olhar para batalha das hidrelétricas contra o mexilhão-dourado. Segundo o técnico em manutenção mecânica de usinas hidrelétricas Cleliton de Lima Dalben, esse trabalho, por exemplo, é fundamental não apenas para garantir o funcionamento das turbinas e equipamentos, mas para evitar custos extras que refletem na conta de luz.
Segundo ele, a manutenção engloba desde inspeções de rotina e troca de componentes até revisões completas em turbinas, geradores e sistemas hidráulicos. Uma usina bem conservada gera mais energia com o mesmo volume de água, reduzindo a necessidade de acionar termelétricas, que têm custo de produção mais alto e encarecem a tarifa.
Saiba como o mexilhão-dourado pesa na conta de luz
Um exemplo de transtorno na conservação é a presença do mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei) e de colônias de hidrozoas tem se tornado um dos maiores desafios operacionais das usinas. Esses organismos aquáticos, considerados, espécies invasoras, causam incrustações severas em tubulações e sistemas de resfriamento, comprometendo o desempenho térmico e elevando os custos de manutenção.
“Hoje, a luta contra o mexilhão é diária. Não basta limpar, é preciso entender o ciclo biológico e adaptar o sistema. A manutenção virou também uma questão de biologia aplicada”, explica o técnico. Originário do sudeste asiático, o mexilhão-dourado chegou à América do Sul na década de 1990, trazido na água de lastro de navios cargueiros vindos da Ásia.
Essas condições permitem que os moluscos se fixem em qualquer superfície, de tubulações metálicas a válvulas e trocadores de calor, formando colônias densas que reduzem a vazão e provocam bloqueios nos circuitos de resfriamento. Entre as consequências estão o ataque a sensores, válvulas e instrumentos de medição, comprometendo a automação.
De acordo com Lima, os custos anuais de limpeza e reposição de peças podem alcançar até R$ 5 milhões por usina de grande porte, dependendo da frequência das paradas e da complexidade dos sistemas. Para conter o avanço do mexilhão-dourado e das algas hidrozoas, concessionárias de energia têm investido em uma combinação de métodos químicos, físicos e mecânicos.
O que é feito para tentar conter o mexilhão-dourado?
1. Cloração contínua ou intermitente dos circuitos de resfriamento;
2. Injeção de hidróxido de sódio (NaOH), que altera o pH da água e inibe o crescimento larval;
3. Aplicação de biocidas antifouling para impedir a fixação de organismos nas superfícies metálicas;
4. Filtragem e microfiltragem nas linhas de sucção;
5. Sistemas de luz ultravioleta (UV) e ozonização, testados de forma experimental;
6. Revestimentos internos antiaderentes, que dificultam a formação de colônias.
Como manter o equilíbrio das águas?
Um dos maiores desafios, segundo Lima, é equilibrar o uso de produtos químicos com a proteção ambiental, já que o emprego de biocidas e cloro é rigidamente controlado por órgãos reguladores. “É preciso garantir a eficiência sem comprometer a qualidade da água e o ecossistema ao redor”, reforça o técnico.
Universidades e centros de pesquisa trabalham em soluções mais sustentáveis, como materiais avançados e sistemas inteligentes de injeção química automatizada. Também estão em desenvolvimento tecnologias de limpeza por pulsos hidráulicos, capazes de remover incrustações sem a necessidade de paradas prolongadas.
Enquanto essas inovações não se consolidam, o trabalho nas usinas segue intenso. “Cada parada representa tempo e energia perdidos. O segredo é antecipar o problema antes que ele cause uma falha crítica”, conclui Cleliton de Lima.





