O apagão que atingiu diferentes regiões do país reacendeu o debate sobre a necessidade de fortalecer a resiliência e a modernização do sistema elétrico brasileiro. Para José João Cunha Filho, CEO da Fotus Distribuidora Solar, o fato mostra como falhas pontuais impactam em larga escala.
“O apagão que atingiu boa parte do país reforça a importância de investimentos contínuos em resiliência e modernização do sistema elétrico nacional. Embora eventos dessa natureza tenham causas pontuais, como o incêndio registrado em uma subestação de alta tensão no Paraná, seus efeitos em cadeia evidenciam como falhas localizadas podem impactar milhões de consumidores quando não há redundância suficiente na transmissão”, observa o executivo.
Mapeamento do sistema elétrico
Cunha Filho destaca que a prevenção é o mapeamento constante dos pontos críticos da rede, aliado à manutenção e uso de tecnologias de monitoramento.
“O uso de sensores inteligentes, monitoramento em tempo real e inspeções preditivas ajuda a detectar anomalias antes que elas se tornem falhas sistêmicas, reduzindo o risco de interrupções em larga escala”, explica.
Outro ponto ressaltado pelo CEO é a importância de simulações de estresse e testes de resiliência. Segundo ele, esses exercícios permitem avaliar a capacidade de resposta do sistema e ajustar protocolos operacionais com base em cenários reais.
Para ele, a adoção de armazenamento de energia por baterias (BESS) deve ocupar papel central na construção de uma rede elétrica mais segura.
Sistema de armazenamento
“A tecnologia permite criar ilhas energéticas, unidades independentes capazes de manter o fornecimento mesmo em situações de instabilidade do sistema interligado. Hospitais, data centers, indústrias e até residências equipadas com sistemas de armazenamento poderiam garantir operação contínua durante o apagão, utilizando a energia previamente acumulada”, explica.
Cunha Filho conclui destacando que o futuro da energia no Brasil depende de planos de contingência bem estruturados e de uma coordenação mais eficiente entre os agentes do setor.
“A construção de uma matriz elétrica mais segura e confiável passa por ações preventivas, inovação tecnológica e integração entre os diferentes elos da cadeia, com foco em manter o país energizado mesmo diante de eventos inesperados.”
Monitoramento de redes
Para o setor privado Gustavo Sozzi, CEO do Grupo Lux Energia, eventos como esse mostram a necessidade de investir em monitoramento contínuo e descentralização da geração.
Ele também destaca que soluções como armazenamento por baterias (BESS), geração distribuída e planos de contingência integrados são fundamentais para garantir fornecimento ininterrupto.
Consequências do apagão
No Rio de Janeiro, por exemplo, a falta de luz afetou parte da Baixada Fluminense e bairros das zonas Norte e Oeste da capital. Mais de 720 mil clientes atendidos pelas concessionárias Light e Enel ficaram sem luz por meia hora.
No Amazonas, a interrupção começou às 23h32, por conta da diferença de fuso horário, e atingiu Manaus, Parintins e Itacoatiara. No Distrito Federal, a Neoenergia interrompeu o fornecimento de energia para cerca de 300 mil clientes.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que enviou ofícios às concessionárias para cobrar explicações sobre a interrupção no fornecimento de energia. O órgão vai inspecionar a subestação afetada e apurar a responsabilidade de todos os agentes envolvidos.
Apagão não foi causado por falta de geração, diz governo
A interrupção de energia elétrica não foi provocada por falta de geração, mas por um problema na transmissão, informou o Ministério de Minas e Energia.
O ministério destacou que o episódio não se caracteriza como apagão, termo usado para situações de escassez de energia ou insuficiência de geração para atender à demanda nacional.
“Não é falta de energia, e sim um problema pontual na infraestrutura de transmissão. O Operador Nacional do Sistema (ONS) deu pronta resposta, o que demonstra a eficiência do sistema elétrico brasileiro”, informou.
O governo, por exemplo, reforçou a importância da aprovação da Medida Provisória que amplia o mercado livre de energia no país, atualmente em análise no Congresso Nacional. A proposta permite que consumidores possam escolher de quem comprar energia, com base em modelo já adotado em países como Portugal. Por fim, A expectativa é de que a abertura total do mercado ocorra até dezembro de 2027 e aumente a competitividade dos preços.