A COP30, que será realizada em Belém em 2025, promete ser um marco na discussão sobre o futuro climático do planeta. Mais do que acordos e promessas, o desafio central está em como medir o progresso sustentável de forma justa e transparente. Países, empresas e cidades precisam demonstrar resultados concretos em redução de emissões, preservação ambiental e inclusão social. Indicadores precisos e comparáveis são fundamentais para acompanhar essa trajetória. Afinal, sem métricas claras, o discurso sobre sustentabilidade arrisca ficar apenas no papel. Veja a seguir o artigo de Lisa Wee, Head Global de Sustentabilidade da AVEVA.
COP30: Como medir o progresso sustentável?
Todos os anos, a história sobre sustentabilidade se repete: novas promessas, avanços notáveis e a mesma conclusão incômoda de que o progresso está estagnado. Mas e se esse diagnóstico estiver errado? E se o problema não for a falta de progresso, mas sim o fato de estarmos procurando nos lugares errados?
Enquanto o mundo aguarda soluções milagrosas, avanços reais já estão acontecendo na reestruturação das redes elétricas, na ascensão de polos industriais digitais e nas discretas transformações de infraestrutura que raramente chegam às manchetes.
Não nos falta progresso. Só precisamos de uma perspectiva diferente para medir.
A COP30 do Brasil não será como as outras. Realizada em Belém, no Pará, na orla da Amazônia, a cúpula já está mudando o foco das promessas para a comprovação e da ambição para a execução. O foco está na construção de infraestrutura que não apenas descarbonize, mas também se adapte e perdure. O apelo do Brasil por um mutirão, um esforço coletivo, reflete o que estamos vendo em toda a indústria: progresso estrutural, não simbólico, sustentado por uma colaboração radical.
Nesse contexto, a verdadeira limitação não é a inovação, mas sim a capacidade da infraestrutura de acompanhar seu ritmo. E isso fica ainda mais evidente na rede elétrica: quando a infraestrutura se torna o gargalo, os avanços não se restringem às ampliações, mas às conexões, que precisam ser mais inteligentes.
Veja que os operadores de redes elétricas estão sob pressão
Globalmente, os operadores de redes elétricas estão sob pressão para gerenciar o aumento da carga de energias renováveis, equilibrando a demanda em tempo real, para evitar o desperdício da energia limpa gerada. Ao mesmo tempo, o aumento do preço da energia restringe o crescimento industrial em muitas áreas. E a exigência por mais eletricidade intensifica a pressão sobre a infraestrutura existente.
A boa notícia é que as ferramentas digitais estão ajudando a enfrentar ambos os desafios, e um exemplo vem daqui mesmo.
Com a ajuda da tecnologia, o Operador Nacional do Sistema (ONS), integrou uma plataforma de gestão energética para recuperar 211.000 MWh de energia renovável. Isso é suficiente para abastecer aproximadamente 20 mil residências por um ano, considerando o consumo médio de eletricidade por domicílio. A maior visibilidade também ajudou a evitar perdas de US$ 11,4 milhões, maximizando a utilização de energia limpa.
Isso mostra que a sustentabilidade está sendo incorporada às operações das empresas, e não adicionada posteriormente. E como esse momentum se reflete em capacidade e não apenas em reduções de emissões, as métricas tradicionais não conseguem registrá-lo. Sustentabilidade não segue uma linha reta e muitas das métricas atuais ainda a medem como se seguisse.
Entenda os indicadores de ESG
Indicadores ESG tradicionais dependem muito de totais anuais e linhas de base estáticas, em vez de capturar o dinamismo em tempo real. Entretanto, os verdadeiros avanços ocorrem quando as restrições da infraestrutura são superadas, os fluxos de dados preditivos permitem a otimização em tempo real e a colaboração entre clusters industriais potencializa economias. Essas mudanças criam transformações abruptas, não tendências lineares.
Elas também introduzem complexidade, dificultando a coordenação em uma economia interconectada e orientada por dados. É por isso que a digitalização se torna tão essencial, sendo a base para uma economia industrial conectada.
Reconhecer esse progresso exige mudar a perspectiva com que analisamos o problema. Precisamos de uma lente que acompanhe a evolução dos sistemas, e não apenas a redução das emissões. Caso contrário, corremos o risco de confundir um progresso real com uma desaceleração e de ignorar as lições que podem ser replicadas em setores inteiros.
O desafio agora é enxergá-las. Os avanços que estão remodelando os setores de energia, manufatura e cadeias de suprimentos raramente chegam às manchetes, mas estão acontecendo. Clusters digitais, coordenação de redes elétricas e compartilhamento de dados operacionais estão silenciosamente impulsionando mudanças em diversos setores.
COP30 deixará isso bem evidente
A sustentabilidade não está perdendo força. Ela está passando da intenção para a infraestrutura, das manchetes para a implementação prática, da ambição para a execução.
Essa mudança já está remodelando as expectativas, e a COP30 deixará isso bem evidente. Em Belém, a conversa se voltará para a implementação, com foco em como financiar a resiliência climática, digitalizar a transição energética e construir a infraestrutura que impulsiona tanto o crescimento quanto a descarbonização.
A concretização desses objetivos dependerá da eficácia com que conectarmos os sistemas que já impulsionam a mudança. Isso porque o verdadeiro progresso na transição energética depende da interligação de sistemas industriais funcionais, da coordenação das próximas etapas e do desenvolvimento de soluções duradouras.





